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​Quadro Oposto

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Decidi parar um pouco a pena
Comprei tinta e pincel para pintar
Nesse quadro primeiro vou traçar
Uma imagem singela e bem serena
Com a textura do sol de cor morena
Contornando o horizonte infinito
E na linha que margeia o erudito
Faço um corte meio renascentista
Mesmo leigo vou desenhando a pista
Que atravessa esse quadro feito um mito

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Tem um claro azul cobrindo o céu
Umas nuvens brincando de ser bicho
Uma varanda distinta no capricho
E no campo um vaqueiro com chapéu
Caminhando um velho menestrel
Muda a rota do quadro apontando
Que uma Lua formosa vem chegando
Pela areia da praia doutra cena
Pois na volta do quadro a outra pena
O inverso do esboço vai moldando

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Nessa parte a tinta é mais escura
Pois a noite já chega com as buzinas
Descem as cores pintando as suas sinas
Retirando do pano essa brancura
Tem também o contraste da candura
Quando o pôr de um Sol quebra na areia
É a hora melhor pra quem semeia
Quando ao quadro oposto o Sol levanta
No retrato do dia quando encanta
São seis horas na sala de uma ceia

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São seis horas em cima e seis em baixo
Que somadas são doze por meio dia
Nessa parte a tinta é valentia
Tem o brilho nos olhos, tem um facho
O calor queima a tinta em algum tacho
Misturando suas cores pra labuta
A imagem real de uma disputa
Entre seres que viram aquarelas
Mais ao lado, no canto três donzelas
Doutro lado uma velha prostituta

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Um maestro revolto com a batuta
Faz aceno para um carro de praça
Muitas árvores sombreiam toda a raça
De um povo que segue a sua luta
O pincel chama a tinta da conduta
E esboça criar uma assembléia
Começando na parte da platéia
Um arauto falando em solução
E um púlpito para elocução
Onde alguém sempre trás alguma idéia

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Fui assim dando os toques que faltavam
Nesse quadro buscando alguma imagem
Contornei com pincel uma passagem
Onde poucas pessoas caminhavam
Um olhar bem ao fundo de onde estavam
Uns sorrisos com cheiro de canela
Me mostrou o final dessa aquarela
Onde as tintas viravam sensações
Um senhor com o pincel das emoções
Era Jorge pintando Gabriela

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Laqueado o quadro está exposto
Não tem nada de novo pra contar
O formato é simples de notar
Pois tem cores e tons pra todo gosto
É um Sol acordando e um Sol posto
E uma gente que difere só no nome
Uma que passa bem, outra com fome
E os homens pintados nas idéias
De algum Jorge a criar suas platéias
Que depois do espetáculo sempre some.

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